Os desafios de uma cidade em constante crescimento, a vontade de continuar a trabalhar para a tornar num local "com diversidade e pessoas de todo o mundo" e a necessidade de ter uma economia forte para ajudar quem precisa. "A responsabilidade social é aquilo em que estou mais empenhado", disse Carlos Moedas, apontando o sector crucial: "O turismo representa 25 por cento dos nossos empregos e 20 por cento da nossa economia.
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TPN: O que torna Lisboa tão atractiva para os estrangeiros?
CM: Lisboa sempre teve uma atração que vem da nossa maneira de ser, aquilo a que chamo a "Alma de Lisboa". Como já vivi muito no estrangeiro, em vários países, e estive cinco anos na Comissão Europeia, percebo porque é que os estrangeiros gostam de estar connosco. Os portugueses são intrinsecamente curiosos em relação a outras culturas e conheço muitos países onde isso não acontece.
Os portugueses têm uma curiosidadenatural por tudo o que vem do estrangeiro e aqui em Lisboa há também um forte instinto de hospitalidade
. A nossa cidade sempre manteve as portas abertas ao mundo e foi mesmo considerada a "tri-cidade", devido aos séculos em que cristãos, muçulmanos e judeus viveram aqui lado a lado. Ser uma cidade aberta está muito nos nossos genes
.Os estrangeiros também me dizem que quando chegam se sentem imediatamente parte da cidade, o que também é raro. A questão que se coloca é a de saber como manter esta situação no futuro
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TPN: O crescimento da cidade tem causado alguns problemas aos residentes. Teme que Lisboa chegue a um ponto, como Barcelona ou Tóquio, em que o ambiente se torne menos acolhedor?
CM: Penso que ainda estamos muito longe de cenários desse tipo, mas temos de ter cuidado. Vinte por cento dos habitantes de Lisboa não nasceram cá: somos uma cidade verdadeiramente cosmopolita. Todos os dias chegam à cidade entre 35.000 e 40.000 turistas. O problema é que esses 35 mil turistas vão todos aos mesmos sítios e à mesma hora. É isso que dá às pessoas a ideia de que já há demasiado turismo.
O que é que eu tenho tentado fazer para resolver este problema? Criar atracções noutros locais para os turistas visitarem, e também quero aumentar a taxa turística. Isso poderia ajudar a reduzir algumas das tensões que algumas forças políticas têm tentado suscitar. Se os lisboetas virem que o aumento da taxa turística está a ajudar a manter a cidade limpa ou a criar novas atracções, como estamos a fazer com o museu Almada Negreiros, isso irá melhorar as relações e evitar que Lisboa chegue ao ponto que estamos a ver em Barcelona ou Veneza
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TPN: Aumentar o número de visitas, quer de turistas quer de residentes, é um dos seus objectivos enquanto Presidente da Câmara? É fundamental para o crescimento da cidade?
CM: A diversidade é o meu objetivo. As melhores cidades, as que criam mais emprego e têm melhor qualidade de vida, são as que têm maior diversidade. Isso implica ter pessoas diferentes, de diferentes religiões e diferentes formas de pensar: tudo isso é bom para uma cidade. Mas é também uma das questões que está a polarizar a sociedade, entre a extrema-direita que não gosta de imigrantes em dificuldades ou de refugiados e a extrema-esquerda que não gosta de estrangeiros ricos
. Preocupa-me muito que o mundo esteja a polarizar-se entre dois extremos, a direita e a esquerda. Estou a tentar que isso não aconteça em Lisboa.
Pensoque vou conseguir porque os lisboetas são, em geral, moderados
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TPN: Com este aumento de visitantes e residentes estrangeiros, não há o risco de a cidade perder a sua identidade?
CM: Não, a identidade da cidade vai manter-se. Essa identidade vem do facto de contarmos a nossa história. Tal como os nossos avós nos contam a história da nossa família, o nosso país deve contar a sua história, e nós devemos contar a história da nossa cidade. Mas as cidades mudam, e com razão.
Mudampara melhor com a diversidade
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TPN: Então isto faz parte do futuro? A diversidade dos seus habitantes é essencial para o crescimento da cidade?
CM: Sem dúvida. Nos últimos dois anos, a cidade tem vindo a crescer, com muitas pessoas vindas do estrangeiro. Sem isso, a população teria registado uma queda acentuada. Entre 2010 e 2020, pensámos que isso iria acontecer. Mas não aconteceu, graças à chegada desses 20 por cento vindos de fora.
TPN: O que é necessário para tornar Lisboa ainda mais atractiva para visitantes, investidores e residentes?
CM: Numa cidade, estamos constantemente a gerir conflitos, é um trabalho diário. É ter pessoas que me pedem para fechar uma rua e torná-la exclusiva para bicicletas, enquanto outras querem que as bicicletas sejam proibidas. Por exemplo, na Travessa dos Mastros, um grupo de activistas queria fechar a rua ao trânsito e eu disse que achava que isso podia fazer sentido. Depois, de repente, apareceram umas pessoas mais velhas com um abaixo-assinado para manter os carros na rua. É o trabalho, tudo tem de ser feito gradualmente. Hoje em dia, temos a extrema-esquerda que quer que tudo seja feito imediatamente, e a extrema-direita que acredita que nada deve mudar, que toda a gente deve ter um carro e que não deve haver passeios para peões. Depois temos o centro moderado, do qual creio ser um bom representante, que defende que as coisas sejam feitas gradualmente. Sou muito moderado e penso que governar de outra forma criaria fricções sociais.
TPN: Uma das queixas mais comuns prende-se com a burocracia que os estrangeiros enfrentam na obtenção de vistos ou cartões de residência. Como Presidente da Câmara, e reconhecendo que não é da responsabilidade da Câmara Municipal, há formas de melhorar o processo?
CM: Não posso intervir diretamente. Mas tenho estado a trabalhar com o Ministro da Presidência, por exemplo, para que as pessoas que aqui se encontram em dificuldades, sem documentos, possam ter um acesso mais fácil à AIMA para resolver a sua situação. Há muitas pessoas em lista de espera e nós vamos fazer o que pudermos para facilitar as soluções. Se for necessário investimento, investiremos, se for construção, construiremos, faremos. Mas precisamos da ajuda do Governo
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TPN: Para um crescimento sustentável ou gradual, como lhe chama, é melhor ter mais turistas ou mais residentes?
CM: Obviamente que o turismo tem um impacto numérico maior, representa 25 por cento dos nossos empregos e 20 por cento da nossa economia. Na população estrangeira que vive aqui, temos um pouco de tudo. Temos aqueles que estão bem financeiramente, que têm um impacto negativo no preço das casas, mas que, por outro lado, criam empregos e empresas e contribuem para a cidade.
Temostambém aqueles que passam por grandes dificuldades, por vezes até mais duras do que as que os portugueses
enfrentam.
TPN: É um equilíbrio delicado entre a responsabilidade social e os interesses económicos...
CM: As questões sociais são sempre prioritárias, mas o problema é que sem a economia não temos dinheiro. Sem dinheiro não podemos resolver as questões sociais. O meu primeiro trabalho como Presidente da Câmara foi no domínio das medidas sociais. Por exemplo, recebemos fundos da União Europeia, 560 milhões de euros, para construir casas. Mais de 10 por cento da população de Lisboa vive em habitações municipais. Não há muitas cidades no mundo com esta percentagem e, em Portugal, a média é de apenas 2 ou 3 por cento. Vamos construir mais e apoiar mais pessoas. É na responsabilidade social que estou mais empenhado
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TPN: Atualmente, o preço das casas é a questão mais premente em Lisboa...
CM: De longe, não há uma solução imediata. Primeiro, porque a construção nova demora três anos e, segundo, porque numa cidade com a dimensão, atratividade e economia de Lisboa haverá sempre pessoas em lista de espera
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TPN: Dê-me um exemplo positivo. Uma cidade que tenha implementado medidas eficazes de controlo das rendas e dos custos da habitação...
CM: Como já disse, não é um problema fácil de resolver. A única cidade onde tem funcionado bem é Viena, uma cidade que construiu muitas habitações municipais. Penso que esse é o único caminho a seguir, mas também estamos a trabalhar com cooperativas de jovens: damos-lhes o terreno e as casas ficam mais baratas
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TPN: Presumo que as vossas políticas se centrarão sempre na gestão dos custos e não na imposição de controlos de preços?
CM: Isso seria o fim da democracia, certo? São políticas que não são democráticas nem normais, e para os países que seguem esse caminho, não acaba bem. A aplicação de controlos de preços acaba por criar uma economia paralela. O que precisamos é de dar o exemplo, construir mais e ter melhores planos para ajudar as pessoas a pagar as r
endas.
TPN: Finalmente sabemos onde será o novo aeroporto. A curto prazo, o anúncio tem algum impacto para a cidade?
CM: Não a curto prazo e, infelizmente, o nosso aeroporto já está esgotado. Temos de pensar no que queremos fazer com aquele espaço. Tal como criámos o Parque Tejo, trinta hectares de cidade verde, temos de pensar para que poderá servir aquela área. Mas esse é um plano a dez anos que precisa de ser bem pensado. No entanto, o impacto do novo aeroporto é positivo em todos os sentidos.