“A Avadouriense, juntamente com a CNA — Confederação Nacional da Agricultura, decidiu hoje realizar [uma] manifestação por causa de três problemas graves que [podem levar ao] início do fim da Região Demarcada do Douro”, disse à Lusa Vítor Herdeiro, presidente da Associação de Viticultores e Agricultura Familiar do Douro (Avadouriense), com sede em Vila Real.
Na véspera do conselho interprofissional do Instituto do Vinho do Douro e do Porto (IVDP), o responsável alertou para um possível novo corte de 20 mil barris a serem transformados em vinho do Porto nesta colheita.
“Nós nos beneficiamos de 120 mil pipas e, no ano passado, fomos beneficiados com 102 mil pipas, ou seja, já havia havido um corte de 20 mil. Agora, eles querem [estabelecer um benefício] de cerca de 80 mil pipas”, afirmou
.Se essa redução ocorrer, “essas uvas não serão usadas como vinho do Porto e terão que ser usadas como vinho de consumo”, um “problema sério” para os viticultores do Douro que já sofreram um corte no rendimento por hectare.
“Somos totalmente contra o corte [no benefício] do vinho do Porto porque já houve um corte, pela primeira vez na Região Demarcada do Douro, também no rendimento por hectare. Este ano só conseguiremos [transformar] oito barris por hectare em vinho tinto e cerca de nove barris em vinho branco”
, destacou.Vítor Herdeiro acrescentou ainda que alguns viticultores receberam cartas indicando que o comércio, responsável pela exportação do vinho do Porto, não receberia vinho este ano devido ao excesso de produção.
“Temos medo de que haja uma catástrofe social aqui na Região Demarcada do Douro. Este é o começo do fim, está colocando pequenos e médios agricultores em risco. Há muitos agricultores de médio porte que praticamente vivem apenas disso e terão uma situação muito séria se não receberem suas uvas”, reiterou o líder
.Se o conselho interprofissional do IVDP aprovar o corte previsto no valor do benefício, além do corte na renda e do fato de os produtores não poderem entregar suas uvas às casas exportadoras, essa será uma situação “sem precedentes” na Região Demarcada do Douro.
“Isso nunca aconteceu antes. Quando o Estado introduziu mais de oito milhões de euros no ano passado para a destilação do excesso de vinho, é incompreensível como ainda há excesso este ano. Portanto, há vinho de outras regiões entrando aqui”, frisou Vítor Herdeiro
.O responsável alertou para a necessidade de o Governo intervir e resolver esses problemas, com medidas “sérias e justas” dirigidas aos viticultores.
“O que estamos pedindo é que o Governo introduza medidas específicas, que permitam às casas exportadoras ficarem com as uvas dos viticultores e que não haja corte de 20 mil barris, o que representa um corte de 20 milhões de euros só na Região Demarcada do Douro este ano, além dos 20 mil que já foram cortados há três anos, ou seja, é um corte de 40 milhões de euros se isso avançar”, alertou.
A demonstração dos viticultores do Douro terá lugar em Peso da Régua no dia 7 de agosto e terá como objetivo garantir o fluxo de uvas e impedir os cortes de renda e lucros.
“Se não resolvermos nada nesta demonstração, avançaremos, no meio da colheita, com uma ainda mais forte”, assegurou.