O primeiro-ministro assumiu hoje que a sua decisão de não demitir o ministro João Galamba contraria a maré da opinião pública, mas contrapôs que recusa violentar a sua consciência e alimentar “a dança” dos populismos.
António Costa fez estas declarações em São Bento, depois de confrontado com a possibilidade de a sua decisão de não exonerar o ministro das Infraestruturas poder alimentar o radicalismo político no país e isolar o seu Governo.
Perante os jornalistas, o líder do executivo assumiu que, “porventura”, estará a contrariar “o sentimento da opinião pública” ao não demitir João Galamba das funções de ministro das Infraestruturas no caso que o envolve com o seu ex-adjunto Frederico Pinheiro por causa de informação a prestar `à comissão parlamentar de inquérito sobre a gestão da TAP.
Mas logo a seguir discordou que essa sua posição possa alimentar o radicalismo político no país.
“Alimentar o radicalismo e o populismo é adequarmos o nosso comportamento ao populismo. Se violentasse a minha consciência para fazer aquilo que a opinião pública acha que deve ser feito, para fazer aquilo que os comentadores acham que deve ser feito, então estaria talvez não só a violentar a minha consciência, mas a dançar a dança populismo”, sustentou.
Para António Costa, contrariar “a dança do populismo exige que em determinados momentos se saiba ser firme mesmo quando se sente que se está a ir contra a força da maré”.
“Quem é primeiro-ministro não pode andar ao sabor da maré. E tem de saber que muitas vezes tem de resistir com pé firme contrariando a maré. Não é contrariar por contrariar, não é um exercício de teimosia, é um exercício de consciência”, advogou.
António Costa insistiu que, caso demitisse João Galamba, sentir-se-ia desconfortável com a sua consciência.
“A responsabilidade é minha, só minha, exclusivamente minha”, acentuou.
De acordo com António Costa, ao longo dos últimos dias e, sobretudo, durante o dia de hoje, apurou factos diferentes daqueles que têm sido veiculados para a opinião pública em relação aos episódios que opõem João Galamba e o seu ex-adjunto Frederico Pinheiro, demitido na quarta-feira.
“Sei que aquilo que tem sido dito repetidas vezes é o contrário daquilo que apurei. Tem sido dito que o ministro quis ocultar informação à comissão parlamentar de inquérito, mas é falso; e diz-se que deu ordem aos serviços de informações ou quis utilizá-los, também é falso”, considerou.
O primeiro-ministro concluiu então que não conseguiu corroborar “a essência das acusações que têm sido dirigidas ao ministro das Infraestruturas”.
“Portanto, em consciência, não posso aceitar a sua demissão”, frisou, já depois de ter pronunciado sobre o cenário de, mais tarde, o ministro revelar objetivamente que falhou no exercício das suas funções.
“O tempo permitirá revelar um excelente ministro das Infraestruturas. Se assim não for, a responsabilidade, naturalmente, é minha, porque é a mim que me cabe propor a nomeação e exoneração dos membros do Governo, e pelos seus atos e omissões sou eu que respondo”, disse.
Mas António Costa foi ainda mais longe neste ponto, advertindo que “nem sempre é fácil tomar decisões”.
“Seria seguramente muito mais fácil seguir a opinião unânime dos comentadores, seria seguramente mais fácil aceitar este pedido de demissão, seria seguramente mais fácil ouvir o que a generalidade dos agentes políticos tem dito. Mas entre a facilidade e a minha consciência, lamento desiludir aqueles que vou desiludir, mas dou primazia à minha consciência", acrescentou.