O relatório refere que 43% dos homens que responderam ao inquérito concordam e 38% concordam plenamente que se sentem tão responsáveis pelas tarefas de cuidado quanto a outra pessoa, mas apenas 61% das mulheres afirmou sentir o mesmo em relação à outra pessoa com quem partilha o cuidado.

“Pode haver uma sobrevalorização dos homens relativamente à corresponsabilidade e podem achar que estão a participar mais [nas tarefas de cuidado] do que na verdade o estão a fazer”, disse à agência Lusa a investigadora Tatiana Moura, uma das autoras do relatório “A Situação da Paternidade e do Cuidado em Portugal 2023”.

O relatório e as suas conclusões são apresentadas no sábado, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, durante o primeiro fórum “Masculinidades em Perspetiva”, organizado pela Men Talks, em parceria com o Observatório das Masculinidades (do CES) e os mestrados em relações internacionais e sociologia daquela faculdade.

O inquérito, realizado entre fevereiro e maio, é desenvolvido pela Equimundo – Center for Masculinities and Social Justice (dos Estados Unidos), que lança um relatório global de dois em dois anos, incluindo desta vez Portugal nos países analisados.

O inquérito foi aplicado a um total de 809 pessoas e, “apesar de não ser representativo da população nacional”, permite ter uma ideia da evolução da paternidade e do cuidado no país, realçou Tatiana Moura.

Apesar de parecer haver uma perceção errada por parte dos homens sobre a distribuição das tarefas em casa, a também coordenadora do Observatório das Masculinidades salientou que os dados apontam para “um avanço”, sinalizando que os resultados do inquérito podem demonstrar uma evolução na “vontade de fazer” e de participar por parte dos homens.

“Há uns anos, [os homens] não afirmariam sequer essa vontade de ter mais tempo. Há uma construção de masculinidades hoje em dia, na faixa dos 40 anos, que é diferente da anterior, com os homens a mostrarem vontade em cuidar mais e em terem direito a passar mais tempo com as suas crianças”, salientou.

Para além de haver um desfasamento entre o que as mulheres e os homens inquiridos sentem em torno da repartição das tarefas de cuidado, o estudo nota também que as mulheres acabam por dedicar mais horas diárias ao cuidado dos filhos e a tarefas de limpeza.

No caso do cuidado com os filhos, 21% das mulheres referem que dedicam mais de seis horas diárias nessas tarefas, contra 7% dos homens, com a maioria dos pais a referir que dedica entre uma a duas horas diárias a esse tipo de tarefas, contou a investigadora.

Tatiana Moura salientou que a grande maioria das mães e pais (73% e 79%, respetivamente) referem não ter tempo para o cuidado dos filhos ou filhas, justificando-o com o peso “muito grande das horas de trabalho” fora de casa.

O inquérito debruça-se também sobre o uso da licença parental no país, em que constata que continua “a haver uma percentagem que não usufrui da licença na totalidade”, o que acaba por se dever a questões de precariedade, receio de perder o emprego ou de não progredir na carreira, assim como o facto de a licença não ser paga a 100%, disse a investigadora.

“É muito interessante porque, quando perguntamos sobre a vontade e disposição para uma licença adicional, mais de 90% defenderiam essa questão”, notou, defendendo que as licenças deveriam ser pagas a 100% e obrigatórias.

Sobre cuidados a pessoas idosas ou com deficiência, 75% dos inquiridos referiu que não tem tempo para realizar esse cuidado.

O programa do fórum "Masculinidades em Perspetiva" pode ser consultado em: https://www.ces.uc.pt/pt/agenda-noticias/agenda-de-eventos/2023/forum-masculinidades-em-perspetiva/programa