"Este ano, de acordo com os registos e as análises que são feitas com recurso a técnicas avançadas, chegámos à conclusão de que este agosto foi o mais quente desde 1941, muito possivelmente devido ao aquecimento global", disse o meteorologista Diamantino Henriques, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera(IPMA).

Segundo o especialista, a "tendência de aquecimento global sobrepôs-se à variabilidade natural", provocando um aumento da temperatura, referindo que julho foi também o mês mais quente dos últimos 83 anos.

Diamantino Henriques disse ainda acreditar que em agosto se registaram mesmo as "temperaturas mais altas de sempre" durante esse mês nos Açores, mas salientou que só é possível fazer uma comparação anual até 1941 devido aos "instrumentos, locais e tipo de exposição".

"Foi a temperatura mais alta [em agosto] desde 1941, mas se calhar até pode ter sido a mais alta de sempre", salientou.

De acordo com o último Boletim Climatológico do IPMA, publicado na terça-feira, em agosto a "temperatura média do ar ultrapassou vários máximos absolutos", com 30,5 graus registados no observatório de Ponta Delgada, 29,9 graus no aeroporto de Ponta Delgada, 31,3 graus no aeródromo das Flores, 29,6 graus no aeródromo de São Jorge e 30,5 graus no aeródromo do Pico.

A água do mar também "registou o valor máximo diário mais elevado", com uma temperatura de 27,3 graus no dia 25 de agosto.

E, segundo Diamantino Henriques, a "tendência é para continuar a aumentar", uma vez que se prevê um aumento de mais de dois graus em relação à temperatura média de referência nos Açores até ao final do século.

"Não é só uma questão de temperaturas máximas, que muitas vezes só ocorrem num dia. O problema são os períodos quentes e as noites tropicais em que a temperatura mínima é superior a 20 graus. Estes períodos vão aumentar muito. Estamos muito próximos disso", destacou.

O meteorologista deu o exemplo da ilha de Santa Maria, onde foram registadas temperaturas acima dos 20 graus todos os dias durante o mês de agosto.

"O nosso clima, que até agora era, de certa forma, temperado, ameno e oceânico, vai passar e mudar para um clima tropical, onde as temperaturas mínimas vão estar acima dos 20 graus durante todo o ano", explicou.

Além do aumento das temperaturas, verifica-se uma humidade elevada, uma situação "inevitável" no arquipélago dos Açores, lembrou o meteorologista.

"Estamos num ambiente marítimo onde há sempre humidade, não podemos fugir a isso, estamos no meio do mar", frisou.

Diamantino Henriques apontou ainda um "fluxo de água quente do Golfo do México" para justificar a temperatura "atípica" do mar, mas sublinhou que "ainda é muito cedo" para "compreender o fenómeno".

No Boletim Climatológico, o IPMA destaca que o "mês de agosto de 2024 foi extremamente quente e geralmente seco em toda a região dos Açores", com as "temperaturas mensais do ar e da superfície do mar na região, à semelhança do mês de julho, a atingirem os valores mais elevados desde 1941".