“Continua a existir uma tendência decrescente na percentagem de utentes com médico de família designado, e grandes heterogeneidades a nível regional, com impacto nos indicadores de acesso aos cuidados de saúde prestados nas unidades de saúde primárias (APS)”, alerta a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) num relatório de monitorização divulgado hoje.
De acordo com dados do portal de transparência do Serviço Nacional de Saúde (SNS) consultado pela agência Lusa, no final de abril deste ano, 1.565.880 utentes não tinham médico de família em Portugal continental, mais 26.658 do que no mês anterior.
O monitoramento do acesso aos CSPs pela ERS indica que, no ano passado, 24,6% dos usuários inscritos no LVT não tinham um médico de família designado, percentual que aumentou em comparação com 18,2% em 2021 e 19,2% em 2022.
O Algarve é a segunda região de Portugal continental com mais pessoas sem acesso a um especialista em medicina geral e familiar, um cenário que também evoluiu negativamente nos últimos três anos — 15,1% em 2021, 17,6% em 2022 e 20% em 2023.
De acordo com os dados da ERS, no Alentejo, houve o maior aumento percentual de pessoas sem médico de família — oito pontos percentuais -, passando de 9,4% em 2021 para 17,3% em 2023.
No Centro, o número de pessoas cadastradas, mas sem médico de família designado, aumentou de 6% para 12,6% de 2021 a 2023.
A região Norte se destaca positivamente neste indicador, pois apenas 2,3% dos usuários cadastrados nos centros de saúde não tinham médico de família no último ano, um ligeiro aumento em comparação com 1,9% em 2021 e 2,2% em 2022.
No final de 2023, 83,5% dos utentes inscritos no CSP tinham um médico de família designado em Portugal continental, continuando a observar uma tendência de queda de 2,1 pontos em relação a 2022 e de 5,3 pontos em relação a 2021.
O Norte teve a maior porcentagem de usuários registrados com um médico de família designado (97,6% em 2023), enquanto na LVT esse número cai para cerca de 70%.
De acordo com dados da entidade reguladora, a taxa de uso de consultas médicas chegou a 69% em 2023, com todas as regiões seguindo essa tendência de queda.
“Comparando as percentagens de utentes com médicos de família com as taxas de utilização de consultas, destaca-se que as regiões de LVT e Algarve exibiram as taxas mais baixas em todos os anos em análise nestes indicadores, o que sugere que a disponibilidade de médico de família representa um fator importante na promoção do acesso à APS no SNS”, alerta a ERS.
Em 2023, as consultas médicas presenciais aumentaram 3,7%, seguindo a mesma tendência de 2022, mas ainda assim em número inferior às registradas em 2019 (20.715.482).
As consultas médicas não presenciais registraram uma queda de 6,3% em 2023, em comparação com 2022, também seguindo a tendência de 2022.
A comparação desses dados “parece sugerir uma mudança na forma como os cuidados de saúde são prestados, com o reforço das consultas médicas presenciais, em detrimento das consultas não presenciais, e, por outro lado, favorecendo as consultas de enfermagem não presenciais, em comparação com as presenciais”, indica a entidade reguladora.
Em relação aos exames de doenças oncológicas, com exceção das mamografias, que registraram uma diminuição em 2023, os demais exames de base populacional analisados (colpocitologia e câncer de cólon e reto) aumentaram, todos registrando valores mais altos do que em 2019.
De acordo com a ERS, tendo em conta que o Norte tem melhores indicadores e é a região com a maior percentagem de Unidades de Saúde Familiar modelo B, o seu “melhor desempenho pode estar associado ao modelo organizacional dessas unidades”.
Sobre a retomada das atividades assistenciais, a ERS constatou que “não foi possível recuperar os níveis de 2019”, um ano antes da pandemia da Covid-19, nos indicadores de consultas presenciais (médicas e de enfermagem), consultas médicas em casa, percentagem de recém-nascidos com lares de idosos até 15 dias de idade e consultas devido à gripe.