Gerir dinheiro é uma parte importante da vida
de qualquer adulto, mas estarão os jovens portugueses preparados para entrar
nesta fase e começar a gerir o seu próprio dinheiro? Esta é uma pergunta que um
inquérito realizado pela DECO em março deste ano tentou responder.
Nas 27 escolas integradas na rede DECOjovem, do
primeiro ano do ensino até ao secundário, 1156 crianças tiveram formação onde
aprenderam conceitos sobre literacia financeira e responderam a um quiz.
Excesso de informação
Mais do que nunca, os jovens têm acesso a
imensa informação que se encontra disponível, nomeadamente através da internet.
No entanto, o que pode contribuir para um aumento dos níveis de informação,
pode também tornar os jovens mais vulneráveis às compras por impulso.
"O excesso de informação às vezes não é
bom e se não tivermos ferramentas e capacidade de fazer triagem da informação
que temos podemos ser vítimas de excesso de informação porque os jovens também
são agentes económicos, pelo que estão sujeitos à publicidade e à necessidade
do consumo. Se os jovens não aprendem desde cedo a fazer esta triagem
financeira acabam por não conseguir fazer o filtro e continuar a enveredar por
caminhos que não são tão bons para as suas escolhas financeiras ao longo da
vida", explicou Carla Dourado, jurista da DECO.
Neste sentido, o estudo colocou uma questão a
estas crianças: "Encontras os teus ténis de sonho. Custam 99,99 euros.
Compras de imediato"?
Nesta pergunta, 27% dos inquiridos
responderam que não pensariam duas vezes, enquanto 39% disseram que poderiam
comprar, mas apenas depois de falarem com os seus pais. Os restantes 34% dos
jovens disseram que teriam de ponderar primeiro. Com esta pergunta, a DECO
concluiu que as técnicas de marketing mais agressivas têm um grande efeito
sobre os consumidores mais jovens. Além disso, o preço também pode ter efeitos
manipuladores. Os preços que terminam em 99 cêntimos destinam-se a criar a
ilusão de que o produto é mais barato, influenciando os jovens, que acabam por
os comprar mais facilmente, refere o estudo.
"Efetivamente, eles fazem escolhas e
gestão de dinheiro. Temos de ensinar o que é básico, o que é secundário e como
é que eles podem fazer essa distinção", menciona Carla Dourado, que
integra o gabinete de proteção financeira da DECO.
Pequenos consumidores
A DECO adverte que os mais novos não deixam
de ser consumidores em razão da tenra idade. Por sua vez, como consumidores
devem ter uma noção real do valor do dinheiro desde cedo. "Os recursos
financeiros são limitados, mas as nossas necessidades e desejos estão sempre a
crescer. Por conseguinte, é essencial aprender a fazer escolhas e gerir o
dinheiro, conhecendo e compreendendo as ferramentas que nos permitem fazê-lo de
uma forma informada e responsável", disse a DECO.
No entanto, a DECO acredita que os jovens
estão a tornar-se mais conscientes destas situações e que a pandemia pode ter
contribuído para uma melhor consciencialização das crianças.
"Em 2020 a pandemia obrigou-nos mesmo a
parar e muitas crianças que falamos ao longo da formação disseram que as suas
famílias tiveram que passar por situações um pouco mais dificeis em termos
económicos e eles tiveram consciência disso. E, para além disso, também nas
notícias essa questão foi muito divulgada. Desde então, as crianças
resguardaram-se um bocadinho mais e isso nota-se especialmente nos adolescentes
mais velhos", disse.
Como educar as crianças?
Dar às crianças mais velhas
mais responsabilidades, ajuda-as a aprender competências de gestão financeira
ao longo da vida.
"Uma dica é
tentar ajudar os pais a fazer uma lista de compras e se eles forem com os pais
ao supermercado, tentar incentiva-los a olhar para os produtos que estão na
lista e fazer a melhor escolha possível em relação a quantidade e qualidade. E
se conseguirem trazer os mesmos produtos para casa por menos dinheiro, fazerem
esse jogo e ficarem com a diferença. Incentiva-os a ajudarem e a fazerem aqui
uma melhor gestão. Com os adolescentes os pais podem partilhar o orçamento da
família para eles tomarem consciência do que se gasta em bens essenciais e que
é necessário fazer essas escolhas”, sugere.
Quanto às crianças mais novas,
podemos começar por ensiná-las a "apagar as luzes quando saem dos seus
quartos ou fechar a torneira quando escovam os dentes". Tudo isto nos
ajuda a poupar dinheiro e a envolver as crianças nestes processos de tomada de
decisão".
A DECO recomenda também que os
pais atribuam às crianças uma mesada para que possam aprender a geri-la desde
tenra idade, "semanada para os mais pequenos e mesada para as crianças
mais velhas".
Depois de lhes ensinar estes
conceitos, agora é tempo de incentivar os seus filhos a pouparem dinheiro.
"Cool” não é sinónimo de gastar muito dinheiro". Cada vez que uma
criança recebe uma certa quantia de dinheiro, deve poupar 10% do dinheiro que
recebeu, quer seja 5 ou 50 euros".
Devemos dizer às crianças
quando as coisas se complicam?
"Há questões que quer
queiramos quer não, não podemos simplesmente fingir que nada se passa. Devemos
falar com as crianças e explicar quando as coisas não estão bem, mas sem
colocar demasiado peso no assunto, nem responsabiliza-las. Não queremos criar
ansiedade nas crianças", disse.
"O que pode acontecer por
vezes é que estas dificuldades não são faladas e depois, quando a criança pede
algo, os pais ficam muito zangados e transmitem essa negatividade para a
criança que não entende o que se está a passar", Carla acrescentou.
"Temos de explicar às
crianças que temos um rendimento, que este rendimento é limitado e, portanto,
que temos de fazer escolhas. Devemos envolver as crianças o mais cedo possível
nestas escolhas. Eu diria que as crianças nunca devem ser deixadas à margem
destes problemas", concluiu.
Paula Martins is a fully qualified journalist, who finds writing a means of self-expression. She studied Journalism and Communication at University of Coimbra and recently Law in the Algarve. Press card: 8252
