Este acordo representa um avanço monumental na promoção das relações económicas entre duas das maiores regiões económicas do mundo. Numa altura em que a Europa procura diversificar as suas relações comerciais e escapar à dependência de mercados como a Rússia e a China, Portugal, estrategicamente localizado na encruzilhada da Europa, está preparado para beneficiar deste acordo, quer como porta de entrada para os mercados europeus, quer como ator crucial no panorama comercial do Mercosul.
O Acordo Comercial UE-Mercosul: uma visão geral
O acordo comercial UE-Mercosul é o maior do género, afetando 780 milhões de pessoas em toda a Europa e na América do Sul. Uma vez plenamente ratificado, este acordo criará a maior zona de comércio livre do mundo, facilitando o acesso a um mercado de 268 milhões de consumidores nos países do Mercosul. O acordo abrange bens, serviços, investimento e contratos públicos, prometendo benefícios significativos para ambas as partes. Uma das suas principais características é a eliminação de tarifas elevadas que atualmente impedem o comércio, particularmente em setores como automóveis, vinho e produtos agrícolas.
Para Portugal, que mantém desde há muito fortes laços com a América Latina, nomeadamente através das suas ligações históricas, culturais e linguísticas, o acordo UE-Mercosul constitui uma excelente oportunidade para melhorar a sua balança comercial com a região, em particular nos sectores agrícola e agroalimentar. Com um atual défice comercial de 517 milhões de euros em produtos agroalimentares com o Mercosul, Portugal pode agora esperar a redução das barreiras e a oportunidade de exportar mais dos seus produtos de renome, como vinho, azeite e queijo, sem enfrentar as pesadas tarifas atualmente em vigor.
Portugal: Uma porta chave para a Europa e a América Latina
A posição estratégica de Portugal na periferia da Europa, combinada com as suas relações históricas com os países da América Latina, confere-lhe uma vantagem única como porta de entrada entre a Europa e o Mercosul. O acordo UE-Mercosul abre novas oportunidades para as empresas portuguesas funcionarem como intermediárias para negócios em ambas as regiões que procuram expandir o seu alcance de mercado. Os exportadores portugueses, especialmente nos sectores agrícola, automóvel e das energias renováveis, poderão beneficiar imenso deste maior acesso aos mercados sul-americanos.
Além disso, a infraestrutura de energia renovável bem estabelecida de Portugal, particularmente em energia eólica e solar, posiciona-o como um ator forte no comércio futuro com o Mercosul. À medida que países da América do Sul, como o Brasil, continuam a procurar soluções sustentáveis para a produção de energia, a experiência de Portugal em tecnologias verdes pode tornar-se uma exportação-chave, gerando benefícios económicos e ambientais.
O papel da tecnologia e da sustentabilidade no novo cenário comercial
À medida que a UE continua a priorizar a sustentabilidade e a digitalização, Portugal, com seus crescentes setores de tecnologia e inovação, está bem posicionado para capitalizar a demanda emergente por soluções sustentáveis e tecnológicas no Mercosul. Portugal pode posicionar-se como líder no desenvolvimento de técnicas de construção modular, tecnologias verdes e soluções baseadas em IA que podem apoiar as crescentes necessidades de infraestruturas do Mercosul.
Além disso, o aumento da procura de matérias-primas, como o lítio para a produção de baterias, representa outra oportunidade para Portugal. À medida que a UE procura assegurar um aprovisionamento estável e sustentável destes materiais críticos, as empresas portuguesas poderão desempenhar um papel vital na facilitação do comércio entre a Europa e a América do Sul, particularmente nos domínios emergentes das energias renováveis e da mobilidade elétrica.
Desafios e oportunidades futuras
Embora se espere que o acordo abra muitas portas às empresas portuguesas, subsistem desafios. O acordo ainda enfrenta a aprovação dos Estados-membros da UE, e países como a França expressaram forte oposição devido a preocupações com a concorrência agrícola. No entanto, Espanha e Alemanha têm sido favoráveis, enfatizando a importância do acordo para o futuro económico da Europa, particularmente porque procura reduzir a dependência de mercados externos como a China e a Rússia.
Para Portugal, a chave será alavancar a sua posição única na UE e nos mercados emergentes do Mercosul. Ao concentrar-se em áreas onde tem vantagens competitivas, como as exportações agroalimentares, as energias renováveis e a tecnologia, Portugal pode não só beneficiar das oportunidades económicas imediatas, mas também estabelecer parcerias estratégicas de longo prazo com nações sul-americanas.
Em conclusão, o acordo comercial UE-Mercosul constitui um marco significativo nas relações comerciais mundiais, oferecendo a Portugal uma excelente oportunidade para reforçar o seu papel de ponte entre a Europa e a América do Sul. Ao capitalizar esta oportunidade, Portugal pode impulsionar as suas exportações, reduzir os desequilíbrios comerciais e tornar-se um ator chave na economia global em crescimento.
Paulo Lopes is a multi-talent Portuguese citizen who made his Master of Economics in Switzerland and studied law at Lusófona in Lisbon - CEO of Casaiberia in Lisbon and Algarve.