"Estamos a celebrar um feito histórico na medicina em Portugal e na medicina de transplantação. Em 2024 vamos ter o maior número de transplantes cardíacos de sempre", afirmou Nuno Gaibino.
O médico destacou que 2014 tinha sido o melhor ano até à data, com um recorde de 55 transplantes. No entanto, "devido a uma série de coincidências", entre as quais a pandemia de Covid-19, houve uma redução do número de transplantes, que tem vindo a recuperar e a aumentar anualmente.
No ano passado, foram recolhidos 60 corações, 58 dos quais foram transplantados nas quatro unidades de transplantação cardíaca do país - Hospital de São João, no Porto, Unidade Local de Saúde de Coimbra, Hospital de Santa Cruz e Hospital de Santa Marta, ambos em Lisboa - e duas em Espanha.
Nuno Gaibino explicou que os dois corações foram enviados para Espanha porque não foram encontrados receptores adequados em Portugal.
"Numa tentativa de não desperdiçar órgãos disponíveis, e também por uma questão de solidariedade, estes dois corações foram enviados para Espanha, onde foram transplantados. No total, foram efectuados 60 transplantes com os 60 corações recolhidos em Portugal", salientou o coordenador nacional de transplantação do Instituto Português do Sangue e da Transplantação(IPST).
Apesar de os dados sobre a atividade global de transplantação para 2024 só serem apresentados a 9 de abril, o especialista adiantou que a Coordenação Nacional de Transplantação quis partilhar este "dado muito importante" com as unidades de transplantação cardíaca, mas também com a população em geral.
"Este número reflete essencialmente o trabalho da equipa e da rede nacional de doação e transplantação e, em particular, das quatro unidades de transplantação cardíaca que têm vindo a apresentar uma proficiência muito semelhante a nível nacional", elogiou.
Segundo o responsável, este trabalho permite "uma resposta em rede e a utilização do máximo número de órgãos" e responder aos doentes e às suas necessidades, "uma vez que, cada vez mais, o transplante cardíaco surge como o tratamento de uma doença terminal".
Portugal tem uma "carga pesada" de doenças cardiovasculares e a insuficiência cardíaca é um problema, além das doenças congénitas, e, muitas vezes, o transplante de coração é uma "segunda vida" que se pode dar a estes doentes.
Questionado pela Lusa sobre os doentes que aguardam por um transplante cardíaco, Nuno Gaibino disse que, no final de 2024, existem cerca de 60 doentes.
Para o coordenador, "o grande problema" é a escassez de órgãos, porque as equipas "têm uma capacidade de resposta muito acima disso", mas estão limitadas por essa razão.
"Todos os dias nos deparamos com problemas em Portugal no sector da saúde, no Serviço Nacional de Saúde", mas a área dos transplantes continua a ser "uma área de enorme diferenciação técnica e uma grande demonstração prática no dia a dia das verdadeiras potencialidades do Serviço Nacional de Saúde", sublinhou.
Por isso, defendeu que a tónica deve ser colocada na parte da doação, na identificação de cada vez mais órgãos e no potencial de maximização da recolha de órgãos.