As projeções da análise, na qual participaram dois pesquisadores portugueses, “mostram que, em meados do século XXI, as mudanças climáticas podem se tornar as principais responsáveis pelo declínio da biodiversidade”, de acordo com um comunicado do Centro Alemão de Pesquisa Integrativa em Biodiversidade (iDiv).
No caso do primeiro estudo, o “maior do gênero”, pesquisadores do iDiv e da Universidade de Halle-Wittenberg (MLU) compararam 13 modelos para avaliar o impacto das mudanças no uso da terra e nas mudanças climáticas, levando em conta quatro métricas de biodiversidade, além de nove serviços ecossistêmicos.
“Ao incluir todas as regiões do mundo (...), conseguimos preencher muitos pontos cegos e responder às críticas de outras abordagens baseadas em dados fragmentados e potencialmente tendenciosos”, diz o português Henrique Pereira, biólogo conservacionista e líder do grupo de cientistas que participou do estudo, que é o primeiro autor do artigo.
“Todas as abordagens têm vantagens e desvantagens. Acreditamos que nossa abordagem (...) fornece a estimativa mais abrangente das tendências da biodiversidade em todo o mundo”, acrescentou, citado no comunicado
.Os pesquisadores calcularam o impacto das mudanças no uso da terra nos serviços ecossistêmicos, ou seja, “os benefícios que a natureza proporciona aos seres humanos”, e analisaram como essas e a biodiversidade poderiam evoluir, levando em conta a crescente importância das mudanças climáticas.
Nos três cenários avaliados — do desenvolvimento sustentável às altas emissões de gases de efeito estufa — “os impactos combinados das mudanças no uso da terra e das mudanças climáticas resultam na perda de biodiversidade em todas as regiões do mundo”, embora haja “variações consideráveis” entre as zonas.
“O objetivo dos cenários de longo prazo não é prever o que acontecerá”, mas “entender as alternativas e, portanto, evitar trajetórias que possam ser menos desejáveis e escolher aquelas que tenham resultados positivos. As trajetórias dependem das medidas escolhidas e essas decisões são tomadas dia a dia”, explicou a bióloga portuguesa Inês Martins, da Universidade de York e coautora do artigo
publicado na Science.Nesse contexto, a descoberta, feita por meio da metanálise publicada pela AAAS, de que “em dois terços dos casos, as ações de conservação tiveram um efeito positivo, melhorando o estado da biodiversidade ou pelo menos retardando seu declínio” se torna relevante.
A equipe de pesquisadores liderada por Penny Langhammer, professora associada de biologia na Universidade Estadual do Arizona e vice-presidente executiva da organização não governamental Re:Wild (que defende a recuperação e proteção da biodiversidade em todo o mundo), revelou que as intervenções são as mais eficazes e as mais eficazes são aquelas “direcionadas a espécies e ecossistemas, como controle de espécies invasoras, recuperação de habitats, áreas protegidas e manejo sustentável”.
Embora bilhões de dólares sejam gastos todos os anos em ações de conservação destinadas a “deter e/ou reverter a perda de biodiversidade e a degradação dos ecossistemas (...), muitos objetivos internacionais de conservação, incluindo aqueles estabelecidos pela Convenção sobre Diversidade Biológica, ainda precisam ser alcançados”.
O estudo argumenta que, para determinar medidas futuras, é necessária uma avaliação aprofundada dos objetivos políticos e uma análise dos resultados das atuais intervenções de conservação em termos de biodiversidade.
E, para reverter a crise global de diversidade, as ações de conservação devem aumentar e ser aplicadas de forma mais ampla, o que “exigirá investimentos adicionais significativos em muitos setores da sociedade”, dizem Penny Langhammer e seus colegas.