“Na comunidade portuguesa, digo que não terá muito impacto”, porque “na comunidade portuguesa, em comparação com outros países da América Latina, somos poucos”, disse o assessor à Lusa.
Manuel Bettencourt indicou que, até agora, não recebeu “absolutamente nada” em termos de pedidos de informação ou potencial ajuda em relação ao processo de deportação em massa anunciado por Trump.
O assessor destacou que o número de portugueses que residem ilegalmente na Califórnia é baixo e que a imigração portuguesa para os Estados Unidos diminuiu nas últimas décadas.
“Quando emigrei há 50 anos, havia dez mil, onze mil de nós que vieram para os Estados Unidos”, enquanto “no ano passado menos de mil pessoas vieram para os Estados Unidos”, lembrou.
No último relatório da Immigration and Customs Enforcement (ICE), responsável por deter e deportar estrangeiros considerados prejudiciais à segurança das comunidades americanas ou violar as leis de imigração e garantir investigações ligadas à segurança nacional, é relatado que 69 portugueses foram repatriados em 2024, um ligeiro aumento em relação a 2023 (mais nove).
Mas esses números são muito pequenos em comparação com os objetivos do novo governo Trump, que fala em deportar milhões de pessoas sem documentos no país.
Este é um cenário que Manuel Bettencourt considera difícil de realizar, devido à magnitude logística. “Na minha opinião, isso não vai acontecer”, disse, considerando que o alvo será colocado principalmente em quem comete crimes.
Por outro lado, ele destacou que na Califórnia há uma grande necessidade de mão de obra para a agricultura e é difícil contratar americanos, o que torna necessário o uso de imigrantes.
Bettencourt deu o exemplo do empresário português Manuel Eduardo Vieira, conhecido como o “rei da batata-doce”, que emprega mais de mil pessoas em suas instalações e não sabe quantas podem estar em situação ilegal.
“Há muito poucos portugueses lá. A maioria é da América Latina”, ressaltou o conselheiro
.Com uma grande comunidade portuguesa dos Açores na Califórnia e em outras partes dos Estados Unidos, o governo regional está “em coordenação” com o Governo da República, para lidar com possíveis deportações de portugueses em situação irregular, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.
Bettencourt disse que conhecia poucos casos de deportações de cidadãos portugueses durante o primeiro governo de Trump, observando que eles ocorreram principalmente na costa leste.
Neste lado do país, onde Francisco Ferreira atua como conselheiro comunitário em Washington, D.C., há mais preocupação. “Sou crítico desde o início”, disse o assessor à Lusa, considerando que o novo Presidente “não tem respeito pela Constituição”.
Uma das ordens executivas sobre imigrantes é uma tentativa de acabar com a cidadania de primogenitura, um direito que é salvaguardado pela 14ª Emenda.
“Não me importo com o debate, mas ele o aborda de uma perspectiva discriminatória e xenófoba”, disse o conselheiro comunitário.
Ferreira pediu esclarecimentos ao Governo português e diz que, até o momento, não lhe parece que a questão esteja sendo encarada “com a seriedade que merece”.
Existem oficialmente 1.454.262 pessoas de origem portuguesa residindo nos Estados Unidos, de acordo com o Censo de 2020.