“A possível adoção por alguns serviços públicos desta medida, com uma redução da jornada normal de trabalho, a menos que seja aplicada a todos os serviços públicos, gera desigualdades entre os trabalhadores, o que poderia violar a legalidade da legislação”, alertou João Decq Mota, líder da CGTP — Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses, durante uma audição na comissão de Política Geral do parlamento açoriano, reunida em Ponta Delgada.
Ouvido falar de uma proposta do deputado único do BE, António Lima, que defende a implementação de uma semana de trabalho de quatro dias na região, tanto no setor público como no privado, sem perda de rendimentos para os trabalhadores, o sindicalista deixou um aviso.
“Não basta mencionar [na legislação] que não há redução na remuneração, é necessário acrescentar 'sem perda ou redução de qualquer remuneração, seja salário, vale-refeição, turnos, subsídio por falhas ou outras que o trabalhador ganhe regularmente'”, insistiu João Decq Mota.
Em sentido contrário, Manuel Pavão, presidente da UGT/Açores — União Geral dos Trabalhadores, também ouvido pelos deputados, reconheceu as vantagens da semana de trabalho de quatro dias, embora admitindo que será uma medida que será difícil de aplicar em alguns setores de atividade.
Opinião semelhante foi expressa por Pedro Gomes, coordenador do projeto piloto nacional da semana de quatro dias, também ouvido na comissão de Política Geral da Assembleia Legislativa dos Açores, que argumentou que o arquipélago está em condições de implementar a iniciativa.
“A mudança é necessária e acho que a semana de quatro dias oferece esse caminho intermediário. Não acho que seja à esquerda ou à direita. Acho que, se trabalharmos juntos, podemos conseguir uma enorme melhoria na vida das pessoas, sem prejudicar a economia”, destacou Pedro Gomes
.Conforme ele explicou, há várias vantagens para os trabalhadores em adotar uma semana de trabalho de apenas quatro dias, primeiro permitindo que eles tenham “mais tempo para fazer o que querem”, além de contribuir para a redução do “estresse no trabalho”, além de aumentar o “aumento da produtividade” e reduzir custos para as empresas.
“Em muitos setores, acho que é possível implementar uma semana de quatro dias sem custos adicionais de contratação”, destacou Pedro Gomes, acrescentando que, em setores onde é necessário reforçar os recursos humanos, tudo dependerá “da questão quantitativa”.
“Se me disserem que é preciso contratar 25% mais trabalhadores, digo que isso não é realista, não faça isso”, destacou.
O Governo Regional dos Açores já anunciou a intenção de implementar um projeto semelhante na Administração Pública Regional.