As descobertas sobre a evolução e adaptações da linhagem do leopardo-das-neves durante a última idade do gelo, publicadas na 'Science Advances', têm implicações significativas para a conservação desta linhagem, segundo os investigadores, representados em Portugal pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa.

O leopardo-das-neves é um felino esquivo e de hábitos reservados e, até agora, acreditava-se que era o único que vivia exclusivamente em grandes altitudes, nas montanhas da Ásia Central.

Mas o estudo do esqueleto parcial do leopardo-das-neves descoberto em 2000 em Porto de Mós, que inclui um crânio e é conhecido como o 'Algar da Manga Larga Leopardo', desafia suposições antigas sobre as preferências de habitat deste felino. .

O estudo argumenta que os leopardos-das-neves preferem terrenos íngremes e rochosos e climas frios, sem necessitarem necessariamente de grandes altitudes.

Enquanto os leopardos comuns evoluíram para caçar presas rápidas e ágeis em habitats parcialmente florestados, os leopardos-das-neves desenvolveram caraterísticas distintas para abater presas robustas como as cabras-montesas, incluindo molares maiores, crânios abobadados e mandíbulas e patas mais fortes.

A sua sobrevivência em terrenos rochosos e estéreis também dependia de outras adaptações fundamentais: visão binocular melhorada, uma grande estrutura craniana ectotímpano para uma melhor audição, membros poderosos para suportar o impacto de saltar entre rochas e uma cauda longa para o equilíbrio.

Estas adaptações desenvolveram-se rapidamente durante o Quaternário, particularmente a partir do Pleistoceno médio (82 800 a 355 000 anos atrás na escala do tempo geológico).

A investigação futura irá explorar a neuroanatomia e a paleoecologia do leopardo de Manga Larga, segundo a NOVA FCT.

"Foi uma verdadeira surpresa encontrar um membro desta linhagem de felídeos no Pleistoceno de Portugal", disse Darío Estraviz-López, doutorando em Geologia na NOVA FCT que faz parte da equipa de investigação, acrescentando que esta descoberta só foi possível graças a uma grande contextualização com outros materiais provenientes da China.

O leopardo-das-neves foi classificado como uma espécie "vulnerável" em 2017, depois de ter sido classificado como uma espécie ameaçada desde 1972.