"É uma espécie completamente nova para a ciência e foi a primeira encontrada e identificada em toda a Península Ibérica, ou seja, alarga o leque do que se conhecia sobre estes animais nesta altura", disse João Pratas, investigador e colaborador do Museu da Lourinhã, para onde o fóssil foi transportado.
A Câmara da Marinha Grande anunciou que "foi descoberta uma nova espécie de réptil marinho do grupo dos ictiossauros, ou 'lagartos-peixe', que habitou a região há mais de 190 milhões de anos, durante o Jurássico Inferior".
Batizado de 'Gadusaurus aqualigneus', este novo ictiossauro foi descoberto na praia de Água de Madeiros, "por Isabel Morais Roldão, da Marinha, professora na Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo, em Leiria", disse.
De acordo com a autarquia, o nome 'Gadusaurus aqualigneus' faz "referência ao bacalhau ('Gadus'), devido às semelhanças morfológicas com os ictiossauros, e à praia de Água de Madeiros".
"A escolha do nome homenageia o peixe que é um símbolo identitário da cultura portuguesa, ligando o património paleontológico e o património imaterial", explicou.
A autarquia refere que se trata de "um animal relativamente pequeno, que se distingue por um grande forame [orifício] nasal, maior do que o documentado noutras espécies, e por dois sulcos simétricos nos ossos circundantes".
"O crânio apresenta alguma desarticulação, sugerindo que se trata de um animal mais jovem cujos ossos ainda não estavam bem fundidos ou que os ossos se deslocaram durante o processo de fossilização", explicou.
João Pratas, primeiro autor de um artigo científico publicado há uma semana na revista Ata Palaeontologica Polonica, referiu que após a descoberta feita por Isabel Morais Roldão, segunda autora do artigo, a professora entregou o exemplar ao Museu da Lourinhã.
Seguiram-se trabalhos de preparação e limpeza nos laboratórios do museu, bem como observações, para "ajudar a tentar identificar o exemplar", disse a doutoranda da Universidade Nova de Lisboa.
"Depois fizemos comparações com outros ictiossauros existentes e fizemos análises filogenéticas, que é o procedimento típico para tentar identificar aquilo com que estamos a lidar", acrescentou, explicando que tudo está incluído no artigo agora publicado.
O animal "faz parte de um grupo de répteis marinhos que foram os ictiossauros", os lagartos-peixe, "um grupo de répteis que se adaptou a um ambiente marinho, desenvolvendo uma forma corporal muito hidrodinâmica", continuou João Pratas.
"É o tipo de evolução semelhante ao que se observa atualmente nas baleias modernas. Seriam animais com um corpo muito hidrodinâmico, com um focinho muito comprido, cauda e barbatanas semelhantes às de um tubarão ou de um golfinho, e tinham também olhos muito grandes", explicou.
João Pratas disse que a região entre a Marinha Grande, no distrito de Leiria, e a Lourinhã (Lisboa) sempre teve uma grande coleção de fósseis.
"Pelo que sabemos, nesses tempos pré-históricos, felizmente que esta região tinha várias das caraterísticas necessárias para ser um bom local de preservação de fósseis. E por isso é muito comum encontrarmos várias coisas nestas regiões, às vezes fragmentos, outras vezes exemplares inteiros, que nos permitem fazer descobertas como a deste artigo", acrescentou o investigador.