Os dados vêm da AirAdvisor, uma startup que facilita que os passageiros solicitem indenizações das companhias aéreas. No ano passado, os seis aeroportos portugueses mais movimentados — Lisboa, Porto, Faro, Funchal, Ponta Delgada e Horta — registaram um recorde de 68,6 milhões de passageiros, de acordo com dados da ANA Aeroportos de Portugal, uma concessão da VINCI Airports, responsável pela gestão de 10 aeroportos

no país.

O CEO da AirAdvisor, Anton Radchenko, advogado e mestre em Direito Internacional pela Faculdade de Direito da Universidade de Iowa (EUA), diz que, em média, 30% desses voos que passaram por aeroportos portugueses — partidas ou chegadas — tiveram algum tipo de interrupção, como atrasos e cancelamentos. Segundo ele, essas interrupções podem ter impactado até 20,58 milhões de passageiros. Esses números, segundo o especialista, refletem o fato de Portugal ter desafios significativos com a pontualidade dos voos e, em 2023, ter sido identificado como o terceiro pior país da Europa nesse quesito, com mais de 80.000 voos interrompidos, afetando mais

de 11 milhões de passageiros.

Fazendo uma reclamação

Embora as repercussões negativas dos atrasos e cancelamentos de voos sejam altas, os clientes das companhias aéreas nem sempre formalizam suas reclamações. De acordo com pesquisas realizadas pela AirAdvisor em toda a União Europeia, apenas 10% a 20% dos passageiros que têm direito a compensação ou reembolso por voos cancelados ou atrasados realmente solicitam compensação. Anton Radchenko explica que esse número varia de acordo com a fonte e o país, mas o consenso é que a maioria dos consumidores não reivindica o que lhes é devido. No caso de Portugal, levando em conta esses dados, o número de clientes que devem solicitar compensação, devido a problemas no ano passado, pode variar de 2.058 milhões a 4.116 milhões de pessoas. Em outras palavras, cerca de 16.464 milhões de passageiros afetados por algum tipo de transtorno nem mesmo solicitam seus direitos

.

Ele acredita que esse fenômeno de baixa demanda por compensação geralmente ocorre devido à falta de conhecimento sobre os direitos do consumidor ou dificuldades no processo de reclamações. “Embora a legislação da União Europeia, como o Regulamento (CE) nº 261/2004, garanta direitos claros aos passageiros, a falta de conhecimento sobre esses direitos, a complexidade do processo e a desinformação das companhias aéreas contribuam para essa baixa taxa de solicitações”, diz ele.

Anton Radchenko argumenta que uma forma de minimizar o estresse sofrido e as perdas emocionais e financeiras causadas por atrasos e cancelamentos é que cada consumidor esteja ciente de seus direitos como passageiro e de como proceder em situações como essas. Ele explica que a compensação não é automática e depende de certas condições, como o motivo do atraso ou do cancelamento. Se a interrupção for causada por circunstâncias extraordinárias, como condições climáticas extremas, riscos de segurança ou greves de terceiros, a companhia aérea pode não ser obrigada a pagar uma compensação

.

Primeiros passos para compensação

Em casos de atrasos e cancelamentos, o primeiro passo é entrar em contato com o atendimento ao cliente para descobrir o motivo da interrupção em detalhes e, de preferência, por escrito. É importante guardar todas as informações e evidências, incluindo comunicações de cancelamento ou atraso, bem como recibos de despesas adicionais. O CEO da AirAdvisor alerta que as companhias aéreas geralmente oferecem vouchers de viagem e outros brindes como alternativa aos reembolsos, que nada mais são do que formas de as companhias aéreas se protegerem em caso

de cancelamento de voo.

O conselho do especialista é que os passageiros não aceitem vouchers ou outras ofertas e tenham cuidado com o que assinam. “É comum que esses vouchers tenham termos contratuais que, além de isentarem a companhia aérea de pagar o reembolso da passagem em troca dos vouchers, também impliquem que os passageiros estão renunciando a qualquer tipo de compensação pelo cancelamento do voo.” Anton Radchencko afirma que mesmo quando os passageiros recebem a passagem novamente financiados ou viajam em um voo alternativo, isso não significa que eles não devam ser compensados pelas perdas causadas pelo cancelamento de voo e falta de aviso prévio adequado, com compensação de até 600 euros. Portanto, ele enfatiza a importância de verificar se a situação está dentro das condições de compensação por cancelamento ou atraso

.O

AirAdvisor criou uma calculadora gratuita que permite verificar se seu caso é elegível para uma reclamação. A ferramenta pode ser acessada on-line por meio do link https://airadvisor.com/br/calculadora-de-compensacao-por-voos. “A melhor maneira de garantir que esses direitos sejam respeitados é educar os consumidores sobre suas opções legais e incentivar uma maior transparência das companhias aéreas em relação aos direitos dos passageiros”,

conclui.

Valores de compensação de acordo com o Air Advisor

Cancelamento de voo entre 14 e 7 dias antes da partida:

⢠Menos de 1.500 km - atraso de 2 ou mais horas na chegada - ⬠250

⢠Menos de 1.500 km - atraso de menos de 2 horas na chegada - ⬠125

⢠Entre 1.500 km e 3.500 km - parte 2 ou mais horas antes do horário inicial do voo e chega 3 horas atrasado - ⬠400

⢠Entre 1.500 km e 3.500 km - parte 2 ou mais horas antes do horário inicial do voo e chega com menos de 3 horas de atraso - âœ200

⢠Mais de 3.500 km - atraso de 4 horas ou mais na chegada - ⬠600

⢠Mais de 3.500 km - sai 1 hora antes do voo inicial e chega com menos de 4 horas de atraso - ẫ300

Cancelamento de voo menos de 7 dias antes da partida:

⢠Menos de 1.500 km - atraso de 2 horas ou mais na chegada - ⬠250

⢠Entre 1.500 km e 3.500 km - atraso de 3 ou mais horas na chegada - ⬠400

⢠Mais de 3.500 km - atraso de 4 horas ou mais na chegada - ⬠600

⢠Mais de 3.500 km - atraso de menos de 4 horas na chegada - ẫ300